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AQUELE QUE COMPREENDER QUE NÃO PODERÁ SER UM PERITO HONESTO, SEJA HONESTO, NÃO SEJA PERITO.....
(Abraham Lincoln)

domingo, 24 de junho de 2012

Maceió: Legistas do IML anunciam que vão parar atividades

Os médicos legistas vinculados ao Instituto Médico Legal (IML) anunciaram que vão parar as atividades e interromper o funcionamento nos prédios de Maceió e Arapiraca. A greve por tempo indeterminado deve começar na próxima quinta-feira (21), segundo ficou decidido em assembleia realizada na noite desta segunda-feira (18) no Sindicato dos Médicos de Alagoas (Sinmed).

De acordo com o presidente do Sinmed, Wellington Galvão, os 30 médicos que atuam nas duas unidades do IML no Estado decidiram paralisar suas atividades em protesto pela falta de estrutura para trabalho em Maceió e Arapiraca. A categoria reivindica que o Estado providencie um novo prédio para dar continuidade dos serviços na capital e que a unidade de Arapiraca ganhe equipamentos.

Os legistas também reivindicam a equiparação dos salários de acordo com o piso nacional da categoria. Atualmente os legistas do estado ganham R$ 2.600 e o piso nacional é de R$ 9.600.
Durante a paralisação ficarão suspensas as necropsias nas duas unidades. “Somente exames de corpo de delito serão realizadas. Os legistas irão realizar os exames no Hospital Geral do Estado e na Unidade de Emergência de Arapiraca. Nos IMLs nenhum médico irá trabalhar até que o governo cumpra com as nossas exigências”, adiantou.

DESGASTE. Gota d’água foi a negação de reajuste a médicos legistas
Em meio a crise, diretor do IML pede demissão

O descompromisso do governo com a área de perícia forense e a perda de credibilidade junto aos colegas e demais funcionários foram a justificativa do diretor do Instituto Médico Legal Estácio de Lima, médico legista Gérson Odilon – que ficou por dois anos e três meses no cargo –, para o pedido de demissão, em caráter irrevogável, que disse ter apresentado ao governador Teotonio Vilela Filho.

Segundo Odilon, tornou-se impossível continuar no cargo diante do não cumprimento da promessa feita a ele, pelo próprio governador, de melhorar as condições de trabalho e salários no IML.

Além desses dois fatos, ele aponta a falta de confiança no diretor da Perícia- Geral do Estado – unidade da Secretaria de Estado da Defesa Social que reúne os institutos médico legais de Maceió e Arapiraca, de Criminalística e de Identificação –, coronel Roberto Liberato, como razão de seu afastamento. A ameaça velada que Liberato fez, de pedir intervenção federal no IML caso os legistas peçam demissão coletiva, também justifica o pedido de demissão de Gérson Odilon.

A suposta ameaça foi feita quando Odilon disse ao coronel Liberato que outros dois legistas poderiam pedir demissão, insatisfeitos com as condições de trabalho e salário no órgão. O diretor demissionário diz que, a partir da nomeação do oficial PM para o comando do antigo CPFor, as dificuldades de trabalho no IML de Maceió tornaram-se ainda maiores.

Para dar ideia da falta de atenção com o instituto, Gérson Odilon conta que os pedidos de material passaram a demorar meses para chegar, fato que, antes de Liberato, nunca ocorrera. Ao contrário, ressalta, sempre contou com extrema atenção do secretário Dário Cesar Cavalcante. “Agora, até sacos plásticos para arquivamento de projéteis demoram um mês para chegar”.

A nomeação do coronel Roberto Liberato levou os peritos criminais a uma greve de protesto, pois a categoria entendia que somente um perito poderia ocupar o cargo de diretor. Para conter essa crise, o governo mudou a nomenclatura do órgão, que possou a ser Perícia-Geral do Estado. “Como o coronel Liberato é um médico, achei que teria sensibilidade, mas não aconteceu”, disse Odilon.

A sensibilidade que esperava era uma atuação voltada para garantir a melhoria da qualidade do serviço pericial, bem como das condições de atendimento à população. Ao contrário, Gérson Odilon avalia que os institutos foram ainda mais desprestigiados pelo coronel. Há, no órgão, o temor de que o propósito de Liberato seja a militarização da perícia, caminho que, como disse o próprio Odilon, fere princípios de direitos humanos.

A indicação do sargento PM reformado Olivan Mendes para o cargo de diretor administrativo do IML, em substituição a Carlos Burgo, confirma o temor dos funcionários.

A gota d’água de mais uma crise no setor foi a decisão do governo de não reajustar os salários dos médicos legistas, que, segundo Gérson Odilon, não chega a R$ 3 mil. “Ele assumiu comigo o compromisso de anunciar, no dia 2 de junho, um índice de aumento. Fiquei sem credibilidade diante dos colegas”, reclama.

Esses fatos, somados às deficientes condições de trabalho, que vão da falta de água nas torneiras à inexistência de um aparelho de raio-x, intensificaram os problemas na área de perícia forense. O diretor da Associação Brasileira de Criminalística, perito Nivaldo Cantuária, diz que, em Alagoas, a situação é deplorável, sem respeito aos princípios que garantem eficiência e isenção ao trabalho pericial.

Para Cantuária, a crise só será resolvida com medidas efetivas de recuperação da estrutura do IML e respeito aos profissionais. “A falta de vontade política de mudar as coisas por aqui resulta na falta de estrutura adequada, na desvalorização dos profissionais e no avanço da criminalidade. A situação aqui é vergonhosa”, reclamou.

Ele diz que a Perícia Oficial tem carência de pelo menos 600 profissionais, mas só dispõe de 70 para atuar no Estado.