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AQUELE QUE COMPREENDER QUE NÃO PODERÁ SER UM PERITO HONESTO, SEJA HONESTO, NÃO SEJA PERITO.....
(Abraham Lincoln)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

"CSI" ao estilo paraibano

Peritos do IPC usam técnicas avançadas para identificar vítimas, obter provas contra suspeitos e desvendar crimes.
                         Priscylla Meira // priscyllameira.pb@dabr.com.br

Um homicídio aconteceu. Curiosos rapidamente cercam o local de crime, as Polícias Militar e Civil e os peritos do Instituto de Polícia Científica (IPC) são acionados e se dezenas de repórteres deslocam das redações para o local onde o assassinato aconteceu. O delegado e agentes de investigação coletam o máximo de informações sobre o caso, escutam testemunhas e procuram identificar o autor da crime. Enquanto isso, os peritos isolam a área e dão início a uma das fases mais importantes no processo de investigação criminal: a análise científica dos vestígios do delito.

Quem nunca assistiu a série norte-americana CSI: Crime Scene Investigation e ficou hipnotizado com as técnicas utilizadas pelo grupo de cientistas forenses do departamento de criminalística da polícia de Las Vegas?
Recursos à parte, a rotina dos peritos criminais que atuam na Paraíba não foge muito às cenas de análise de crimes que assistimos na televisão. O setor de Perícia Externa da Gerência Executiva de Criminalística do IPC, localizado no bairro do Cristo Redentor, em João Pessoa, conta com duas equipes especializadas em análise de mortes violentas. Outro dois grupos cuidam das investigações referentes a crimes contra o patrimônio e acidentes de trânsito e a equipe completa atende todas as ocorrências registradas na Grande João Pessoa, no Litoral Norte e Sul do estado e os municípios que compõem as regionais de Guarabira e Itabaiana.

Ainda no local onde o homicídio aconteceu, as equipes de perícia externa realizam coleta de evidência na cena, com o auxílio de lanternas de luz forense, que são capazes de identificar manchas de sangue, pêlos, unhas, fibras e impressões digitais. Mesmo quando o assassino limpa manchas ou lava o local para tentar despistar a polícia, é possível identificar vestígios através de reagentes, como o luminol, que revelam traços de sangue pelo local. Cada vestígio e elemento encontrado na cena do crime é fotografado pelo perito técnico da equipe e a galeria de imagens é anexada às páginas do laudo pericial, que irá compor o inquérito policial.

Além dos reveladores de manchas e material genético, os peritos do IPC da Paraíba trabalham também com o uso de reagentes para constatação de drogas, como cocaína e maconha, antes que o material seja levado para a análise laboratorial. Com fitas de esparadrapo, eles colhem ainda resíduos de pólvora em objetos que possam ter sido manipulados pelo assassino e colhem com a ajuda de cotonetes substâncias para serem analisadas nos laboratórios Físico-Químico e de Análise Instrumental da Gerência de Criminalística. Uma maleta especial distribuída para cada equipe de perícia externa contém ainda aparelho de GPS, paquímetro profissional digital, trena eletrônica a laser e um netbook.

 
Reunindo provas

Cabe ao perito criminal localizar provas, comprová-las através de exames laboratoriais, documentá-las no laudo pericial e analisar todas as informações das quais dispõe para reconstituir a cena do crime. "Nosso trabalho consiste em reunir provas para desvendar os autores do crime e identificar como ele agiu, que armas utilizou. Desde que chegamos à cena do crime começamos a tentar desvendar cada passo que o criminoso deu", explicou o perito Rener Carvalho, que coordena a Gerência de Criminalística do IPC.

Apesar de todo a tecnologia utilizada pelos peritos criminais na Paraíba, um dos principais entraves para o trabalho desenvolvido pelos profissionais do Instituto de Polícia Científica é a violação da cena do crime. Para Rener Carvalho, a interferência de pessoas curiosas prejudica o trabalho da polícia científica, no momento em que destroem elementos que poderiam servir para a análise da cena criminal.

"É um problema cultural, que precisa ser mudado. Qualquer elemento identificado no local onde um homicídio aconteceu pode servir como indício de prova e, no momento em que curiosos e a própria imprensa invadem a cena do crime, pode haver alterações nos resultados das análises realizadas pelos peritos. Jogar ou retirar objetos no local e tocar no corpo da vítima são atitudes que dificultam o nosso trabalho", explica o perito.

Participação crucial em casos famosos

Manhã de 15 de abril de 2010. O corpo de uma jovem é encontrado jogado às margens da BR-230, próximo ao Corpo de Bombeiros, no acesso oeste da cidade de João Pessoa. A vítima estava sem blusa e com o zíper da calça jeans aberto, simulando que a jovem teria sido violentada sexualmente. No bolso da peça, porém, a polícia encontrou um exame de gravidez com resultado positivo, em nome de Aryane Thaís Carneiro de Azevedo. Aquele foi o principal elemento utilizado na investigação do crime. O confronto entre o DNA encontrado no feto que Aryane esperava e a amostra de sangue que foi coletada do estudante de Direito Luiz Paes de Araújo Neto, confirmou a paternidade do principal suspeito do crime, que foi pronunciado pelo 1º Tribunal do Júri de João Pessoa e deverá ser levado à júri popular ainda este ano.

Dia 21 de julho de 2010. O corpo de mais uma jovem é encontrado jogado em um matagal, em João Pessoa, desta vez no bairro de Jaguaribe. A principal suspeita é que o corpo seja o da estudante Vanessa Maria de Oliveira Pereira, de 19 anos, que estava desaparecida há 18 dias, mas a identificação ficou comprometida por causa do avançado estado de decomposição do corpo. Uma comparação entre a arcada dentária da vítima e o prontuário odontológico de Vanessa não foi conclusiva, mas um exame de comparação genética realizado com o material, no Laboratório de DNA do Instituto de Polícia Científica da Paraíba, foi determinante para confirmar a suspeita do delegado que investigava o caso.

O uso da biologia molecular nas investigações sobre os dois casos, que ganharam as capas dos jornais paraibanos e repercutiram entre a sociedade, foram cruciais para a elucidação da identidade de vítima e preenchimento de laudo pericial que tem validade probatória em juízo. A adoção de técnicas de identificação realizadas a partir da análise direta do DNA é considerada a maior revolução científica na esfera forense desde o reconhecimento das impressões digitais como identificação pessoal. Atualmente, é possível condenar ou absolver um suspeito deter cometido um crime com uma única gota de sangue ou através de um fio de cabelo encontrado na cena do crime.
 
Exames de DNA a serviço da justiça

A Paraíba é um dos três estados nordestinos que possuem laboratório de DNA forense para auxiliar o trabalho desenvolvido pela polícia científica. Com uma equipe formada por oito peritos especializados em biologia molecular, genética ou ciências biológicas, o laboratório montado na Gerência Executiva de Laboratório Forense atende, além dos exames solicitados pela Polícia Civil da Paraíba, a demanda de estados vizinhos, como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas, e até de estados mais distantes, como Roraima e Pará.
De acordo com a perita Ana Carolina Bernardi, 32, o Laboratório de DNA do IPC realiza exames de confronto genético a partir de amostras coletadas de suspeitos e nos locais de crime, como manchas de sangue, sêmen encontrado no corpo das vítimas de violência sexual, fragmentos de pele, pelos ou cabelos. "Os exames de DNA são realizados em casos de crimes sexuais, identificação de cadáver, homicídios ou nos casos de crimes contra o patrimônio, quando há vestígios orgânicos nas cenas dos crimes ounos suspeitos. Qualquer órgão do corpo humano possui células com DNA", esclareceu.

Quando não há material para confronto de DNA, os peritos do IPC guardam as amostras coletadas na vítima ou no objeto utilizado para praticar o crime em freezers. "Em muitos casos, não há suspeitos dos crimes, mas o material coletado e analisado no laboratório fica arquivado para um possível confronto no futuro", explicou a perita, ressaltando que qualquer exame realizado no laboratório de DNA do IPC deve ser solicitado pela autoridade policial, Ministério Público ou Poder Judiciário.

Os equipamentos de um "CSI"

Pó de grafite: aplicado com um pincel, auxilia os peritos a identificarem marcas de impressões digitais na cena do crime.

Luminol: Líquido revelador que faz com que manchas, que foram aparentemente removidas, brilhem no escuro.

Kit de luz forense: auxiliam os peritos a encontrar manchas, como as de esperma, no local de crime.

Esparadrados: um dos utensílios mais utilizados pela perícia científica. As fitas são coladas em objetos encontrados na cena do crime ou no corpo da vítima e suspeito para identificar impressões digitais e outros vestígios. Após serem coladas no objeto de investigação, a equipe de perícia externa remove as fitas e colam em folhas fibrosas, que são enviadas para análise no laboratório se Físico-Química. É bastante usada para a realização de exames residuográficos, coladas nas mãos, antebraços e peitos de um susposto suspeito de ter efetuado um disparo de arma de fogo.

Hastes flexíveis com pontas de algodão: Os chamados \'cotonetes\' são usados para coletar material na cena do crime e, após lacrados em envelopes plásticos, enviados para análise no laboratório se Físico-Química. O uso de palitos de picolé também são comuns para coletar amostras.

Câmeras fotográficas: enquanto o perito analisa todos os vestígios encontrados na cena do crime, o técnico em perícia fotografa cada detalhe do trabalho minunciosamente. Até mesmo objetos inicialmente considerados sem importância devem ser registrados em imagens no momento da perícia.

Pinça: são utilizadas para colher objetos na cena do crime. Assim como as luvas de látex, evitam que as digitais dos peritos fiquem impressas nos objetos investigados.